quarta-feira, 20 de julho de 2016

Mate, edição do autor

PREFÁCIO

Foi no final da década de 80 que me tornei sócio da Galeria de Xadrez Borba Gato. Em geral, os frequentadores dos clubes de xadrez costumam ser pessoas que estão mais interessadas em passar umas horas divertidas, jogando com os adversários de sempre do que pessoas sisudas se esforçando em estudar para chegar a um xadrez de alto nível. Se algum desavisado passar pela porta de um clube de xadrez num sábado à tarde, vai achar que lá dentro estão jogando truco ou dominó, tamanha algazarra que muitos dos jogadores fazem. E confesso que eu sempre fui um daqueles que mais contribuiu para promover a bagunça nos clubes em que passei.
Mas não era assim no Borba Gato dos anos 80. Os fundadores do clube eram pessoas mais para a meia idade e que levavam o xadrez muito, muito a sério. Lembro especialmente do Viñas, do Naur e do motivo deste livro, o Sr. Fritz Loepert, ou Sr. Frederico como era chamado na nossa língua. Até a molecada se comportava bem naquele ambiente gentil, mas firme.

Convivi com o Sr. Frederico muito tempo menos do que gostaria. Tinha um xadrez equilibrado entre a estratégia e a tática. A impressão que dava é que suas partidas, ganhasse ou perdesse, eram uma sequência de lances harmoniosos, como se a estética fosse o seu guia principal no desenrolar de uma partida. Talvez seu jogo refletisse sua profissão que era ser consultor de moda.

Gentil e educado, ele se impunha naturalmente por onde passasse. Eu, que sempre fui um pouco arreliento, me comportava bonitinho na frente daquele alemão refinado.
Jogador muito forte no nível amador, dava mais valor à elegância do jogo do que ao resultado da partida. Lembro que certa vez fiz um sacrifício retumbante contra ele. O sacrifício era retumbante, mas incorreto e perdi a partida. Ainda hoje me lembro do seu conselho: “Antes de sacrificar as próprias peças, a gente precisa aprender a sacrificar as peças do adversário”.

Sem dúvida, seu lado artístico e sua paixão por achar a “verdade da posição” foram os elementos que o levaram para o terreno da composição de problemas. Não sei se gostava mais de jogar, ou de compor problemas de xadrez. Também me lembro dos sábados à tarde, no Borba Gato, em que ele ficava me mostrando suas composições e ficávamos toda a tarde sem jogar uma única partida!

Em 1982, o Sr. Frederico fez editar, fora do circuito comercial, um pequeno número de exemplares do livro onde reproduziu seus trabalhos mais interessantes, segundo suas palavras. Foi esse livro, intitulado “Mate 1982” que digitalizei e que se transformou no texto que você está lendo agora. (Baixar grátis em pdf) Fiz isso para que outras pessoas, que sequer conheceram o Sr. Frederico, possam se deliciar com as obras que esse artista criou. Se você tiver alguma informação adicional sobre ele, por favor, nos envie (luisvilanova@terra.com.br), que vamos incorporá-la. Parte das informações aqui mencionadas foram conseguidas no site “O Problemista”, de Leo Mano (www.oproblemista.com.br).

O Sr. Frederico, esse enxadrista refinado, nos deixou órfãos de sua companhia em 8 de janeiro de 1995, aos 72 anos.

Abaixo, foto da visita que o campeão mundial (1957 e 1958), Vasily Smyslov fez à Galeria de Xadrez Borba Gato, onde realizou uma simultânea. Da esquerda para a direita, dois sócios do clube, Francisco Sala e Lourenço Cordioli, Smyslov e nosso amigo, Frederico Loepert.

Luis Molist Vilanova, ou melhor, “Vila”
8 de maio de 2016





Francisco Salas, Lourenço Cordioli, GM Vasily Smislov e Fritz Loepert